Obesidade nos animais de companhia: formosura ou doença?

A obesidade é sem dúvida a doença do século XXI, não só nos humanos, mas também nos nossos animais de companhia. A gordura há muito que deixou de ser formosura. A nível mundial, os estudos estimam que 63% dos gatos de estimação e 59,3% dos cães de estimação têm excesso de peso ou são obesos.

Mas esta patologia continua a ser um desafio diário na prática clínica, uma vez que os médicos veterinários apresentam uma grande dificuldade em comunicá-la aos tutores dos animais porque, apesar das graves consequências do excesso de peso para a saúde do animal, os inquéritos revelam que os donos dos animais de companhia não reconhecem frequentemente o peso dos seus animais como um problema.

Mas cabe-nos a nós médicos veterinários cuidarmos e assegurarmos a saúde e o bem-estar dos nossos pacientes, e a comunicação com os tutores de uma forma clara, objetiva e desprovida de qualquer preconceito é fundamental, para podermos iniciar a terapia para a obesidade, tratando-a como qualquer outra doença. Se como tutor quer ter o seu animal consigo o máximo de tempo possível, tem que aceitar e reconhecer a obesidade e permitir que a mesma seja tratada pelo médico veterinário. Hoje sabe-se que animais obesos têm uma esperança média de vida de menos dois anos que os animais com peso normal.

Então o que é a obesidade?

A obesidade trata-se de uma patologia nutricional que afeta negativamente os nossos animais de companhia, desde a sua qualidade de vida e longevidade, até ao surgimento de novas patologias de foro cardíaco, respiratório, ortopédico, endócrino, etc. São inúmeros os problemas que podem advir desta patologia. A obesidade pode também ser uma comorbilidade não relacionada que exacerba a gravidade e/ou o prognóstico de outra doença, ou que contribui para uma decisão sobre a eutanásia.

Quais as raças mais predispostas para a obesidade?

Com uma ingestão alimentar desequilibrada e baixa atividade física, todos os animais de companhia possuem uma predisposição elevada para o excesso de peso ou obesidade. Contudo, existem algumas raças mais predispostas para esta enfermidade como é o caso das raças: Pug, Cavalier King Charles, Beagle, Labrador Retriever, São Bernardo e Rottweiler.

Para além das raças, é importante ter em conta que a quantidade de massa gorda em cães e cadelas é muito diferente. Ter o alimento constantemente à disposição do seu animal, fará com que ele tenha tendência a ingerir mais do que aquilo que precisa. Portanto, além de um plano dietético adequado, todo o maneio alimentar é fundamental para mantermos um peso ideal, sem causar sofrimento ou desconforto ao animal.

1º Passo para o tutor: reconhecer o excesso de peso ou a obesidade no seu animal.

Quando falamos de obesidade é importante ter em conta que nem sempre o excesso de peso é sinónimo de obesidade. Considerando que a escala de condição corporal varia de 1 e 9 pontos, estima-se que uma classificação de 7 pontos indique que o animal se encontre num estado considerado de excesso de peso. Para valores superiores a 7 pontos já se considera que se trata de uma condição de obesidade.

Peça ao seu veterinário para lhe mostrar as escalas de condição corporal, de forma a poder avaliar e a perceber por si, que a obesidade não é ficção, não é uma moda, não é um estereótipo, mas sim uma ciência.

2º Passo para o tutor: escolher a dieta adequada e respeitar as necessidades calóricas para o seu animal

O tutor, sempre aconselhado pelo veterinário, deve escolher uma dieta veterinária específica para a perda de peso. O veterinário irá fazer uma estimativa da quantidade de calorias diárias que o seu animal precisa para atingir o peso ideal. A perda de peso é um processo gradual, com uma perda de 0,5 a 1% do peso corporal por semana nos gatos e de 1 a 2% nos cães. Uma perda de peso demasiado rápida pode levar a uma recuperação do peso após atingir o peso corporal pretendido.

3º Passo para o tutor: cumprir rigorosamente o programa de perda de peso elaborado pelo seu veterinário

– Dar apenas a dieta recomendada pelo médico veterinário.

– Medir os alimentos ajuda a garantir o sucesso do controlo de peso. As balanças de grama são as mais precisas, mas os copos de medição também são úteis. Pode ainda usar os comedouros automáticos que vão dispensar a quantidade de comida exata.

– Se desejar incluir as guloseimas ou outros alimentos na ingestão diária total de calorias, deve mantê-los em menos de 10% do total.

– Estar preparado para gerir os comportamentos de procura de alimentos quando os animais estão em restrição calórica. Isto é, não ceder “aqueles olhinhos irresistíveis” enquanto a família está a fazer as suas refeições.

– Pode ainda incluir exercício físico e utilizar brinquedos para comer, tornando a ingestão de alimento mais desafiante e satisfatória para o seu animal.

– Caso queira optar por uma dieta caseira, deve consultar um nutricionista veterinário. Muitas receitas publicadas não são nutricionalmente adequadas e podem levar a problemas de saúde.

O nosso conselho final, como médicos veterinários, é que como tutor, priorize nos cuidados de saúde do seu animal a manutenção de um peso ideal, através de umaalimentação equilibrada e qualitativa, com um controlo rigoroso da quantidade e das necessidades calóricas do seu animal, com uma restrição das guloseimas e que implemente um plano de exercício regular e adequado ao estado de saúde e à idade do seu animal.

Como médicos veterinários NÃO podemos NUNCA ignorar os pacientes obesos que nos entram na consulta ou que avaliamos online, seja qual for o motivo da consulta. Como prestadores de cuidados médico-veterinários, temos obrigação ética e moral de alertar os tutores para esta patologia tão importante, como qualquer outra.

Comece hoje a dizer não à obesidade nos animais de companhia!

A Equipa Gandhivet

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