Sentiu uma pequena protuberância na orelha do seu cão. Ou talvez tenha visto algo no pescoço do seu gato que não parecia normal. Então percebe: é uma carraça. O seu estômago revira!
Já ouviu dizer que as carraças transmitem doenças, mas o seu animal de estimação parece estar bem. Deve ficar preocupado? O que deve procurar? Deve ligar para o veterinário? Não é o único a fazer estas perguntas, por isso vamos tentar esclarecê-lo.
As doenças transmitidas por carraças podem ser traiçoeiras e, às vezes, os sinais só aparecem quando já é tarde demais para agir rapidamente. Mas há uma boa notícia: se souber o que procurar, poderá detetar os sintomas precocemente e manter o seu animal de estimação seguro.
Qual o risco real das carraças?
As carraças não são apenas um incómodo; elas são transmissoras de doenças e uma única picada pode, às vezes, deixar o seu cão ou gato gravemente doente.
Quando uma carraça se alimenta do sangue do seu animal de estimação, pode transmitir bactérias ou parasitas que causam infeções. Algumas dessas doenças levam dias ou até semanas para apresentar sintomas.
Mesmo que o seu animal de estimação esteja em tratamento preventivo, isto é, com a desparasitação externa em dia, nenhum método é 100% infalível. É por isso que é tão importante saber quais os sinais a que deve estar atento, por precaução.
Quais as doenças transmitidas por carraças que deve conhecer?
Em cães:
Os cães são vulneráveis a várias doenças transmitidas por carraças. As doenças mais comuns incluem:
• Doença de Lyme: causada pela Borrelia burgdorferi, esta doença pode causar claudicação (mancar), inchaço nas articulações, cansaço e, em casos graves, danos renais (problemas nos rins).
• Erliquiose: esta doença afeta as células sanguíneas e pode causar febre, dores musculares, perda de peso e problemas hemorrágicos.
• Anaplasmose: semelhante à erliquiose, pode causar problemas hemorrágicos, bem como dores nas articulações, letargia e rigidez nos membros.
• Febre maculosa das Montanhas Rochosas (Rocky Mountain Spotted Fever): esta doença é menos comum em Portugal, mas muito grave. Pode causar febre alta, inchaço nas articulações e até convulsões.
Em gatos:
Os gatos são mais resistentes às doenças transmitidas por carraças, mas não a todas. Assim, estão suscetíveis às seguintes doença:
• Cytauxzoonose: frequentemente mortal, esta doença é causada por um parasita transmitido pela carraça Lone Star, mas pensa-se que em Portugal outras espécies endémicas possam estar envolvidas. Os sinais desenvolvem-se rapidamente e incluem letargia, perda de apetite, febre alta e dificuldade em respirar.
• Erliquiose e anaplasmose: raras em gatos, mas possíveis, especialmente em áreas de alto risco.
Que sinais de doença / sintomas podem ser observados?
Os sintomas podem aparecer dias ou até semanas após a picada da carraça e muitas vezes são sinais inespecíficos, semelhantes aos de outras doenças comuns. É por isso que é importante conhecer os primeiros sinais de alerta. Aqui está o que deve observar:
Em cães:
• Claudicação (mancar) repentina (especialmente quando muda de uma pata para outra, isto é, vai alternando a pata afetada)
• Articulações rígidas ou inchadas
• Perda de apetite
• Cansaço ou baixa energia
• Febre
• Vómitos
• Gengivas pálidas
• Sangramento nasal ou hematomas (nódoas negras) incomuns, por exemplo na pele da região do abdómen
Em gatos:
• Letargia (esconder-se, dormir mais do que o habitual)
• Perda de apetite
• Febre alta
• Dificuldade em respirar
• Icterícia (pele ou olhos de coloração amarela)
• Alterações neurológicas, como desequilíbrio ao caminhar.
Quando deve consultar um veterinário?
É melhor prevenir do que remediar quando se trata de doenças transmitidas por carraças. Alguns veterinários recomendam em situação de picada de carraça recomendam de imediato um rastreio das doenças transmitidas por estas, enquanto outros não.
Assim, antes de contactar o seu veterinário ou realizar uma consulta online, certifique-se se:
- O seu animal de estimação teve uma carraça nas últimas semanas e está a agir de forma diferente
- Notar febre, claudicação ou perda de apetite
- Detetar sintomas específicos de doenças como a citauxzoonose ou a doença de Lyme
- Sentir que algo está «errado» —ninguém conhece melhor o seu animal de estimação que você.
Os sintomas das doenças transmitidas por carraças podem piorar rapidamente, especialmente em gatos. Agir rapidamente pode ser a diferença entre um simples tratamento ambulatório com antibiótico e um internamento de urgência com cuidados permanentes e intensivos, e com risco de vida para o animal.
Como se pode antecipar ao problema?
A melhor maneira de proteger o seu animal de estimação é através da prevenção e da vigilância. Eis o que pode fazer:
- Use desparasitantes externos de prevenção contra carraças recomendados pelo veterinário: Certos tratamentos orais, tópicos ou em coleiras, usados isolados ou em combinação, podem reduzir significativamente o risco.
- Verifique o seu animal de estimação regularmente: Especialmente após passeios ou brincadeiras ao ar livre. Concentre-se em áreas quentes e escondidas, como orelhas, axilas, sob a coleira e entre os dedos.
- Remova as carraças imediatamente e de forma adequada: use uma pinça de ponta fina perto da pele e puxe em linha reta. Não torça, aperte ou queime a carraça— essas ações podem aumentar o risco de doenças transmitidas por carraças.
- Conheça os riscos locais: algumas áreas são pontos críticos para carraças. Se mora ou visita uma dessas áreas, tenha cuidado redobrado.
- Mantenha o seu jardim privado sempre aparado e limpo: as carraças prosperam em erva alta e folhas secas. Mantenha o seu espaço ao ar livre aparado e limpo.
Mesmo com todas as precauções certas, algumas carraças ainda podem escapar. É por isso que conhecer os sinais destas doenças de forma a detectá-las numa fase precoce é a sua melhor defesa.
As carraças podem ser minúsculas, mas os problemas de saúde que causam nos animais de estimação podem ser muito graves. Não precisa entrar em pânico todas as vezes que encontrar uma carraça, mas deve ficar alerta e vigiar o seu animal.
A prevenção ajuda. A vigilância é importante. E saber o que procurar pode fazer toda a diferença